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GES adia venda de imóveis

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A venda da empresa que controla o império imobiliário da família Espírito Santo já foi adiada por três vezes. Pelo meio, o património já desvalorizou quase 90 milhões de euros.
Após o colapso do império Espírito Santo, a família tem sido obrigada a vender quase todo o seu património de forma rápida para realizar dinheiro e pagar as suas inúmeras dívidas. Foi assim com a venda da seguradora Tranquilidade, da Espírito Santo Saúde, da Espírito Santo Viagens e dos hotéis Tivoli. Os processos foram céleres e o dinheiro encaixado serviu para pagar aos respetivos credores. Mas nem todas as empresas do universo Espírito Santo conseguem ser vendidas com a mesma eficiência. Alguns dos negócios que estavam agendados, para serem finalizados no ano passado, teimam em não se concretizar.

Um deles é a da Espírito Santo Property, uma subsidiária da Rioforte, que agrupa inúmero património imobiliário espalhado um pouco por todo o País. Gere, atualmente, ativos avaliados em cerca de 843 milhões de euros. Entre estes estão grandes empreendimentos, como a Herdade da Comporta, vários prédios urbanos no coração de Lisboa, os terrenos da Matinha, condomínios de luxo de norte a sul, projetos de escritórios, entre muitos outros.

O processo de venda foi desencadeado a 14 de outubro de 2014. Nessa altura, foram convidados cerca de sessenta potenciais investidores nacionais e internacionais. Na sua maioria pertenciam ao ramo da gestão imobiliária, mas foram também contactados alguns grandes fundos de investimento, os chamados private equity. O negócio envolvia não só a Espírito Santo Property que engloba 16 outras empresas, na sua grande maioria envolvidas com o setor, casos da promoção de imóveis, gestão e fiscalização de obras, mediação imobiliária e gestão de fundos - como também dois outros fundos que eram controlados diretamente pela Rioforte, o Fimes I (proprietário da Quinta do Peru) e o Fimes II (que gere o complexo Oeiras Golf & Residence).

O negócio foi anunciado, os investidores contactados e o Grupo Espírito Santo formalizou a intenção de venda. O objetivo inicial era o de que o negócio estivesse concluído ainda antes do final de 2014.

Dos 60 grupos contactados, apenas seis manifestaram interesse em avançar para o negócio. E quando se aproximou o dia da venda, apenas sobravam dois a avançar com propostas concretas, um grupo norte-americano e um português.

No entanto, a data da operação acabou por ser adiada.

Não por uma, mas por três vezes. Sem que tenha sido dada qualquer explicação aos interessados.

Entretanto, desde o anúncio da venda até ao presente, os principais fundos geridos pela Espírito Santo Property desvalorizaram cerca de 90 milhões de euros. Em apenas quatro meses.

A VISÃO tentou contactar o responsável pela Espírito Santo Property, Caetano Espírito Santo Beirão da Veiga, para saber quais os motivos dos sucessivos adiamentos, mas tal não foi possível.

Conseguimos apurar, no entanto, que as propostas estão em "fase de apreciação" por parte de Caetano Beirão da Veiga, Ana Paula Alves, antiga administradora da Rioforte com o pelouro das finanças, que substituiu na altura Gonçalo Cadete, e pelas autoridades luxemburguesas, através dos seus consultores locais, a PricewaterhouseCoopers.

É que a 8 de dezembro do ano passado, o Tribunal do Comércio do Luxemburgo declarou a falência da Rioforte, empresa sediada naquela país e que é a principal acionista da Espírito Santo Property. Desta forma o tribunal rejeitou o pedido de admissão da sociedade ao regime de gestão controlada, que entretanto tinha sido feito pela família, e foi nomeado um administrador judicial luxemburguês, Paul Laplume, para proceder à liquidação da Rioforte e das respetivas subsidiárias, entre as quais a Espírito Santo Property.

Gestão controlada?

A administração da Espírito Santo Property que estava em funções na altura da decisão de venda, composta por Joaquim Paiva Chaves, Joana Freitas e Aniceto Viegas, foi entretanto substituída por Caetano Espírito Santo Beirão da Veiga, Pedro Espírito Santo Mello Breyner e Vasco de Sousa Uva. O primeiro destes gestores é o homem que foi designado, em agosto, pelo clã Espírito Santo para substituir Ricardo Salgado à frente dos destinos do que restava do império da família.

Ao contrário da equipa de Joaquim Paiva Chaves, a nova administração tem pouco conhecimento deste setor de atividade.

Paiva Chaves, engenheiro civil formado na École Polytechnique Fédérale de Lausanne, na Suíça, e com um MBA pelo INSEAD, acumulava uma larga experiência no setor imobiliário: foi administrador da Torralta, da Sonae Turismo, da Edifer Imobiliária e responsável por todos os acessos e transportes da Expo 98. O seu afastamento foi um processo considerado estranho no meio empresarial, mas que apenas se justificaria pela redução de custos que o Grupo Espírito Santo pretendia implementar nas empresas, de forma a proceder à sua rápida liquidação.

Alguns dos potenciais compradores da Espírito Santo Property ficaram indignados com o facto do Tribunal Luxemburguês não ter autorizado o pedido de gestão controlada solicitado pela família Espírito Santo, e, posteriormente, o administrador judicial, designado pelo próprio tribunal, ter deixado que fossem elementos da família a desempenhar os cargos executivos nas empresas em liquidação. E questionam se não será essa a razão que estará a provocar tanta demora na venda da Espírito Santo Property, um processo em contraciclo com o que aconteceu, por exemplo, com a venda da Espírito Santo Saúde, dos Hotéis Tivoli, da seguradora Tranquilidade ou mesmo da Espírito Santo Viagens. Negócios que foram rápidos e eficazes, como se pretende num processo de liquidação de empresas.

Perda de valor

Desde que a intenção de venda da Espírito Santo Property foi anunciada, em outubro de 2014, o património das duas sociedades gestoras de fundos de investimento que estão sob a sua alçada, o Fimoges e o Gesfimo, já perdeu uma boa parte do seu valor. Segundo os dados estatísticos da Associação Portuguesa de Fundos de Investimento, o Fimoges detinha, na altura da decisão da venda, ativos no valor de 207 milhões de euros, enquanto a Gestimo geria um total de 722 milhões de euros, o que perfazia uma soma de 929 milhões.

Atualmente, segundo os dados estatísticos da mesma fonte, o Fimoges perdeu cerca de um milhão de euros nos ativos sob gestão, valendo agora 206 milhões, enquanto o Gestimo vale 637 milhões, uma perda de 85 milhões de euros no espaço de quatro meses.

No total, as duas sociedades gestoras gerem atualmente 843 milhões de euros.

Se recuarmos a janeiro de 2014, a desvalorização é ainda maior. Na altura, o Gesfimo tinha sob a sua alçada um património de 732 milhões de euros, enquanto o Fimoges geria ativos avaliados em mais de 274 milhões de euros. Juntos, estes dois fundos, os principais da Espírito Santo Property, tinham em seu poder imóveis que totalizavam mais de mil milhões de euros.

Plano especial

Apesar de estar em processo de liquidação, a Espírito Santo Property solicitou um PER, um processo especial criado no âmbito do Código da Insolvência e da Recuperação de Empresas, que permite ao devedor estabelecer negociações com os respectivos credores.

Após este processo especial, foi apresentada uma lista provisória de credores, com um total de 58,7 milhões de euros a receber.

Entre eles estão os subscritores de papel comercial, vários bancos e o Estado, este com um crédito de 4,99 milhões de euros sobre esta sociedade do Grupo Espírito Santo.

Entre os principais credores bancários estão o Banco Comercial Português, com 13,5 milhões de euros, o Banco BIC Português, com 11,3 milhões de euros, a Caixa Central de Crédito Agrícola Mútuo, com 1,5 milhões de euros, e a Caixa de Crédito Agrícola da Costa Azul, também com 1,5 milhões de euros.

Os credores da Espírito Santo Property que aplicaram o seu dinheiro em papel comercial da empresa ascendem a cerca de quatro centenas. A sua maioria tem aplicações no valor de 50 mil euros, acrescidas de juros de 1 250 euros.



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Data: 13/5/2024
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